Uma nova revisão de pesquisas científicas bota em xeque a expressão “rir é o melhor remédio”. Entre os alertas divulgados: a força do riso pode deslocar mandíbulas, propiciar o surgimento de hérnias e causar ataques de asma e dor de cabeça.
É claro que você não deve levar o artigo ao pé da letra. A análise bem-humorada saiu na centenária revista britânica BMJ, que nas edições de fim de ano dá visibilidade a pesquisas minuciosas sobre assuntos divertidos.
Na pior das hipóteses, a revisão engraçadinha pode ser uma boa notícia para quem vive de cara fechada. Se 2013 foi o ano dos hipocondríacos, os autores do estudo dão a entender que 2014 será o ano dos pacientes saudáveis e mal-humorados.
Sacada carrancuda
Os coautores da pesquisa Dr. Robin Ferner, professor de farmacologia clínica na Universidade de Birmingham, e Jeffrey Aronson, associado de farmacologia clínica em Oxford, revisaram 785 artigos que mencionam o riso, colocando-os em três categorias: benefícios (85), danos (114) e condições que causam riso crônico (586).
O BMJ não havia abordado os prós e contras do riso de forma séria há mais de um século. Em 1898, a revista publicou o estudo de caso do ataque cardíaco de uma menina de 13 anos que riu por tempo demais. Desde então, os danos foram observados com atenção.
Uma discussão publicada em 1997 sobre a síndrome de Boerhaave, perfuração espontânea do esôfago, rara e potencialmente letal, mencionou o riso como uma de suas causas, embora a mais comum seja o vômito.
Existe também a misteriosa síndrome de Pilgaard-Dahl, identificada em um artigo de 2010 como um pneumotórax induzido pelo riso que afeta homens fumantes de meia idade. O nome é uma homenagem aos comediantes dinamarqueses Ulf Pilgaard e Lisbet Dahl.
– Não acredito que dinamarqueses sejam terrivelmente engraçados e depois de assistir algumas de suas apresentações no YouTube, continuo sem acreditar – brincou Ferner.
O pesquisador lembra que há, ainda, outra ameaça respiratória no riso excessivo: a ruptura dos alvéolos (pequenos sacos de ar que existem às centenas de milhões dentro do pulmão):
– Se você fizer uma pessoa asmática rir com vontade, é melhor que eles estejam com um inalador ao lado – afirmou Ferner, com base em um experimento de 1936 em torno do mecanismo do riso em pessoas asmáticas.
Além disso, há o perigo de engasgamento, como durante a ingestão de alimentos durante risadas intensas.
Não pare de gargalhar
Mas a análise destacou as vastas evidências dos efeitos salutares do riso. Anote aí: diminuição da raiva, da ansiedade e do estresse, queda na tensão cardiovascular, na concentração de açúcar no sangue e no risco de infarto do miocárdio.
“O equilíbrio entre os benefícios e os danos é provavelmente favorável”, afirmam os autores.
Trabalhos recentes concluíram que o riso “reduz a arteriosclerose” e “melhora a função endotelial”. Além disso, um estudo realizado em 2008 com pacientes portadores de doenças pulmonares obstrutivas crônicas concluiu que o riso inspirado pelo palhaço Pello ajudava a melhorar a função pulmonar.
A ajuda de palhaços na medicina é até corriqueira, mas uma pesquisa deixou Ferner de queixo caído. Realizado em 2011, o estudo de fertilidade relatou que quando um palhaço vestido de chef de cozinha divertia as candidatas a mamães por 12 a 15 minutos após a fertilização in vitro e a transferência dos embriões, a taxa de fecundidade era de 36%, se comparada aos 20% entre o grupo de controle que não foi animado pelo palhaço.
– Por que um chef? – questionou Ferner sem entender.
Apesar dessa observação ampla da literatura médica sobre o riso, Ferner sentiu que ainda havia um território mal explorado.
– Não sabemos até que ponto o riso é seguro. Provavelmente existe uma curva em forma de U: o riso é bom para você, mas em quantidade extrema ele talvez faça mal. Na Inglaterra, não teremos esse problema – gracejou.
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